Porque, todo filme é bom, o que atrapalha é a crítica. Ou não?

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Ensaio sobre a cegueira



Eu confesso que demorei um pouco para conferir 'Ensaio sobre a cegueira' (Blindness/2008) nos cinemas. Não por vontade minha, mas para tentar ter uma opinião mais imparcial sobre a adaptação do livro de José Saramago para as telas. Há, porém, um certo frenesi em cima da obra de Fernando Meirelles, de modo que é quase impossível não criar expectativas antes de ver o filme.
Eu poderia falar de Julianne Moore, que deu alma à esposa do médico, e a única que testemunha todo o caos decorrente da cegueira que sobrevem à população de uma cidade. Mas, eu prefiro falar da primorosa direção de Fernandão Meirelles. Eu não costumo dar muito crédito para os diretores brasileiros que adaptam a 'realidade' das favelas ou qualquer outra 'realidade' brasileira para o cinema. Primeiro porque o que não falta no Brasil é filmes desse gênero, segundo porque não tem muito sobre o que se falar no cinema brasileiro a não ser sobre a realidade do país ou sua cultura. A retomada do cinema nacional é muito válida, mas ainda falta um algo mais que ainda não conseguiram atingir (me perdoem os amantes do cinema nacional). Então, Fernando Meirelles para mim é um grande diretor desde 'O Jardineiro Fiel', uma vez que nesse filme ele mostrou a que veio, muito embora o filme retrate outra realidade, só que de um país que não é o nosso (sem contar que não é todo dia que recusam 'Nicole boneca de cera botox Kidman' para um filme. Ponto para Fernandão Meirelles).
Após a sessão de 'Ensaio sobre a cegueira', senti orgulho de um diretor que soube transportar para as telas exatamente o tom dramático e desesperador vivido pelos personagens do livro. Senti orgulho do que Fernando Meirelles fez atrás das câmeras, orgulho de trabalho bem feito.
O roteiro muito bem adaptado, me fez sentir parte do caos que permeia todo o filme, praticamente uma cúmplice de Julianne Moore. Senti pena, raiva, compaixão.
Poucas vezes eu vi nas telas, interpretações tão convincentes. Belo time de atores!
Andei lendo por aí que José saramago chorou ao ver seus personagens ganharem vida nas telas. Eu não chorei, mas entendi perfeitamente o que é 'fazer uma adaptação para o cinema' depois do filme de Meirelles. É muito mais que jogar meia dúzia de atores em um set e entregar um texto com partes de alguns diálogos do livro ('O amor nos tempos do cólera' que o diga). É ser responsável com a obra que lhe foi confiada e fazer cinema. Cinema bem feito.

E que venha o próximo, Fernando Meirelles!

Trailer:

5 comentários:

Doug disse...

super concordo! ainda ñ fiz questão de assistir aos outros filmes dele, pouco me interesso por essa glamurização da pobreza, mas é inegável o valor de sua direção na adaptação do livro.

Anômima disse...

Não vi nenhum dos 4 últimos filmes resenhados. E só consigo ler sobre um filme depois de ver ou se não quero ver. Esse tá na lista, vamos ver quanto tempo mais fica em cartaz.

Alexandre disse...

O Saramago chorou mesmo, não é boato. Vi o vídeo no blog do Tas uma vez.

Bom, eu não li o livro, então acho que vou poder encarar o filme de uma forma mais tranquila. Outra pedida pra um pós-eleições no domingão.

Rafael Carvalho disse...

Fabiana, você não faz idéia do quanto eu quero ver esse filme, mas não chegou aqui em minha cidade. Quem manda morar na roça? Mas eu esperarei.

Lu. disse...

Dona moça, divido contigo o orgulho que sentiste. São poucas as vezes que posso falar que sou uma brasileira orgulhosa, mas ver Fernandão realizando um trabalho como esse é uma desses momentos raros. Brasil-sil-sil!