Porque, todo filme é bom, o que atrapalha é a crítica. Ou não?

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

´Deus e o diabo na terra do petróleo´


Sangue Negro
(There Will Be Blood /EUA/2007)


Nos primeiros 11 minutos de Sangue Negro (There Will Be Blood /EUA/2007), o diretor Paul Thomas Anderson nos apresenta o que o personagem principal, Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis), o petroleiro sem escrúpulos é capaz de fazer para ter o que sempre desejou.
Plainview, é um empreendedor que logo se torna o cabeça no ramo da exploração do petróleo, daquele tipo que um dia não tinha nada e no outro ganhou tudo. Movido por esse ´sonho americano´ de riqueza e poder, Plainview parte para a pequena e pacata cidade de Little Boston, a fim de explorar todos os poços petrolíferos do lugar e, assim, se firmar como o Rei do ramo petrolífero.
Interpretado com maestria pelo oscarizado Daniel Day-Lewis, Daniel Plainview não só reflete o capitalismo selvagem do início do século passado, como se torna a própria encarnação do ´demônio capitalista´, seja nas cenas em que discursa sobre o papel da família nos negócios, a ponto de usar o próprio filho para conquistar a simpatia dos interlocutores, seja nas cenas em que, apenas com um olhar, transmite para o expectador o que pretende fazer (como na cena em que descobre que o forasteiro que diz ser seu irmão é um farsante). Sem dúvida, é o demômio em pessoa!

Em contrapartida, temos o antagonista, o jovem pastor Eli Sunday (Paul Dano, de Pequena Miss Sunshine, em um personagem difícil de superar) que apesar de apelar para a religião como o único caminho, não deixa de ser um reflexo do próprio Daniel Plainview. Eli Sunday não é um homem de Deus, e bem poderia ser um parceiro de Plainview na arte de subverter pessoas.
Paul Thomas Anderson cuidou de cada detalhe da sua obra, e acertou nos confrontos entre Plainview e Eli, na trilha sonora macabra dos 11 minutos iniciais (trilha esta, composta pelo guitarrista do Radiohead) e inova por trazer à tona um desfecho imprevisível, defecho esse que vai além da realização do ´sonho americano´. Sangue Negro é muito mais que a jornada de um homem rumo à realização dos seus objetivos a qualquer preço. É uma história sobre até que ponto a ganância pode tomar conta do coração humano e até que ponto isso pode ser a sua perdição, um caminho sem volta e sem arrependimentos.

7 comentários:

pseudo-autor disse...

Para mim é uma honra ser o primeiro aqui a comentar sobre essa obra-prima. Ninguém melhor do que Daniel Day-Lewis poderia interpretar esse pária desumano num show de interpretação que merecidamente (às vezes a academia faz a coisa certa) levou o oscar de melhor ator. Paul Dano também está fantástico. Uma mostra clara de que Paul Thomas Anderson é disparado um dos melhores de sua geração.

Mídia? Cultura? Acesse:
http://robertoqueiroz.wordpress.com

Anômima disse...

É o melhor filme lançado no Brasil em 2008, dos que assisti. Superou até mesmo o filme dos irmãos Coen.

Anônimo disse...

Você captou bem o tema deste filme. Só acho que sou a única cinéfila do universo a achar que este filme não é uma obra-prima, apesar de ter alguns elementos excelentes como elenco e roteiro.

Alexandre disse...

Esse eu preciso ver. Vai pra lista de espera dos DVDs.

Lu. disse...

É Daniel Day-Lewis. Só por isso, já vale. Um dos melhores papéis de sua carreira, e ele tem muitos. E o Paul Dano está maravilhoso - porque, vamos concordar, combater frente a frente com o Rei Day-Lewis não é para qualquer um.

fabiana disse...

Só eu ainda não assisti o filme dos irmãos Coen?

Rafael Carvalho disse...

Daniel Plainview é um visionário pois foi um dos primeiros que se aproveitou com força da exploração de petróleo e antecipou essa idéia de capitalismo selvagem de nosso tempo. Selvagem inclusive é o adjetivo ideal para caracterizá-lo, pois nem mesmo seu filho foi capaz de mudar os planos do pai. E nem é preciso dizer do soberbo trabalho de Daniel Day-Lewis que encontra um par perfeito em Paul Dano, muito provavelmente o melhor coadjuvante do ano.